Etapas mentais para fazer uma escolha

Como já falamos anteriormente, as emoções regem nossos pensamentos e são influenciadas por uma série de fatores que ocorre na vida da pessoa.

As emoções são estudadas na Educação há muitos anos, juntamente com a motivação, porque são parceiras imprescindíveis para que haja aprendizagem. Assim como há emoção na hora que tomamos uma decisão. Para cada tomada de decisão, geralmente, existem dois tipos de alternativas: uma que é muito tranquila e nos deixa numa zona de conforto muito grande. Um exemplo é quando um estudante deixa de estudar para uma prova importante para ir a uma festa. Em algum momento, ele colherá o fruto de não ter estudado. Afinal, más escolhas reverberam más consequências, como por exemplo, ficar de exame, reprovar etc.

Por outro lado, existe o segundo tipo de escolha, que é estudar. Ainda assim, essa escolha pode ser organizada de diferentes formas.

A) O estudante pode escolher estudar na véspera da prova e, provavelmente, vai perder a festa, porque escolheu não correr o risco de tirar nota baixa na prova.

B) O estudante pode resolver organizar seu tempo para estudar um pouco todos os dias e, por isso, ele vai à festa, porque não precisa estudar na véspera. Em compensação, ele teve que manter uma disciplina constante para colher os benefícios em tempos futuros.

Na primeira opção, o estudante foi levado pelo princípio do prazer. Na segunda, ele optou em encarar a realidade. E você? O que faria?

Considere que esses princípios se aplicam a várias decisões: comprar ou não comprar, gastar ou não gastar, poupar ou não, investir ou não, endividar-se, planejar etc.

Existem três etapas mentais que precisamos levar em conta para tomarmos uma decisão: percepção, avaliação e julgamento.

Eu optei por utilizar a explicação da Profª Vera Rita Ferreira (2007). Ela descreve uma sucessão de etapas que, didaticamente, proporciona uma excelente compreensão.

Perceber uma situação implica situar-se diante do que está ocorrendo, avaliar a qualidade e quantidade de dados/informações disponíveis, buscar mais conhecimento para compreender melhor a situação. A organização mental dessas informações é necessária para que você compreenda cada vez mais o que está acontecendo. Refletir, questionar buscando compreensão e sentido.

Atenção, observação e registro na memória são necessários, porque se amplia cada vez mais o que se sabe sobre o assunto.

Pensar nas experiências passadas é um mecanismo de autorreflexão. Puxar pela memória situações semelhantes que já vivenciou ou se está tendo uma visão muito mais complicada de algo que é mais simples. É normal que essas coisas aconteçam com a cabeça do ser humano e esses pensamentos acabam atrapalhando a percepção do que realmente está acontecendo.

Para uma avaliação desse tipo, temos que considerar também se não estamos nos enganando e tentando minimizar ou mascarar, porque aquilo que precisa ser avaliado com precisão causa dor, sofrimento, é difícil de resolver. Mais uma vez o ser humano busca saídas fantasiosas para não enfrentar uma situação difícil. A avaliação, neste caso, fica comprometida, porque não coletamos informações o suficiente para compará-las.

Tomar decisões com critérios limitados pode se tornar um problema bem grande. Por exemplo: Por que você resolveu comprar esses sapatos caros? Porque eu gostei. Mas, você tinha dinheiro? Era prioridade? Pagou parcelado? Vai entrar no rotativo do cartão? Já não tem um sapato parecido? Vai utilizar quando? O que aconteceu da última vez que você comprou um sapato que gostou? Ficou guardado? Não era tão lindo assim? Bem, se você não tinha dinheiro, nem limite no cartão, não precisava e já teve problemas em outras compras nas quais teve o mesmo comportamento, qual o motivo de ter comprado?

A resposta pode estar relacionada com o aprender a lidar com as frustrações que a realidade proporciona, sendo essencial para manter o equilíbrio na vida. Lidar com a vontade de viver de ilusões, sem problemas para resolver, é uma opção de vida. Pode ser uma vida que segue sempre pelos mesmos caminhos, quer para os acertos ou erros e, como não existem a reflexão e o levantamento de possibilidades, a probabilidade em tomar decisões desastrosas aumenta significativamente. No exemplo, podemos considerar que a pessoa pode ter satisfeito seu desejo imediato, no entanto, vive frustrada, porque nunca consegue fazer a viagem de seus sonhos, pois nunca tem dinheiro e não consegue compreender como suas amigas viajam. Você se sente a mais infeliz das criaturas, mas continua a persistir nos mesmos erros, uma vez que se nega a encarar a realidade.

Todas as decisões levam a consequências, volte ao exemplo do estudante. “Se a gente não percebeu direito, adequadamente, vai avaliar a situação de um modo insuficiente, não vai levar em consideração tudo o que precisaria, e o resultado dificilmente será bom” (FERREIRA, p.44, 2007).

Pensar a partir do uso da razão, com informações consistentes, pode ser demorado, no entanto, a chance de dar errado é muito menor, porque está sendo considerada a realidade. Pensar se a tomada de decisão para determinada situação foi adequada ou desastrosa para aquele momento e buscar explicações para o ocorrido, é o mais eficiente, o mais demorado e, provavelmente, doloroso.

Sendo assim, é fundamental pensar de forma precisa, reunindo informações, conversando e observando. Pode demorar, mas será mais eficiente.

Após ter as informações e as observações necessárias, elas precisam ser organizadas e comparadas com outras experiências, para evitar cair nas mesmas armadilhas. Durante esse tempo, saiba que deverá exercitar sua capacidade de tolerar a frustração, porque ainda não encontrou a resposta satisfatória para o problema, não recebeu qualquer tipo de gratificação. Saiba que, quando estamos cansados de pensar, ficamos muito propensos a “sair da linha” e tomar decisões equivocadas.

“Pensar pode ser resumido da seguinte maneira: conseguir enxergar novos ângulos para testar mentalmente […] para ir verificando qual a saída melhor para aquele problema, qual a melhor opção pela qual decidir” (FEREEIRO, p.46 ,2006).

Referências

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar. Objetiva, São Paulo, 2011

FERREIRA, Vera Rita de Mello. Decisões econômicas. Saraiva, São Paulo, 2007.


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