É grande nossa preocupação diante do comportamento excessivamente consumista que vem se instalando nos diferentes lares.
Consumimos para viver ou vivemos para consumir?
Sabemos que consumir é ato inerente ao ser humano. Consomem-se água, comida, roupa, amor. Mas a palavra “consumir” também tem o significado de destruir, devorar, corroer, gastar até a total destruição. Dependendo do nível de compreensão que se tem sobre a palavra, podemos adotar um comportamento que irá nos manter com dignidade para o resto de nossas vidas e da vida de futuras gerações, ou esgotaremos todos os recursos, devorando nossas próprias vidas e a de outros.
Assim, o consumo vai além da utilização de cartões de crédito e compras, implica em situações que exigem escolhas e tomada de decisão mais equilibradas. É algo muito mais complexo, pois envolve a autorregulação, ou seja, que cada um saiba a diferença entre desejo e necessidade, para não ser levado a consumir pela pressão social ou por estímulos pouco racionais.
O consumo não consciente também provoca desequilíbrio financeiro e, a ausência de conhecimento a respeito do funcionamento da economia, não permite a tomada de consciência sobre como se utiliza o dinheiro, o quanto se paga de juros no cartão de crédito e cheque especial, não se cria o hábito de poupança, dentre outros.
Outro aspecto importante diz respeito a formação do consumidor ciente de seus direitos e deveres e observador crítico da mídia e da publicidade. Acrescentamos o uso das tecnologias de forma saudável e seguro para todas as idades. Acompanhar, exigir e se engajar em mobilizações por políticas públicas relacionadas ao tema faz parte do processo de socialização econômica e, por consequência, das estratégias para alfabetização econômica. Tudo isso faz parte da Educação Econômica.
Utilizamos a denominação Educação para o Consumo Consciente, este é um campo de conhecimento que trata das questões econômicas, buscando favorecer o desenvolvimento de novos comportamentos para auxiliar as pessoas a enfrentarem os desafios econômicos, ou seja, financeiros e de consumo do dia-a-dia e viver com qualidade hoje e amanhã. Por isso, deve apoiar-se em valores que sustentam uma sociedade democrática: o conhecimento, a ética, a equidade, a qualidade, a solidariedade, a cooperação e o não consumismo. Para nós a noção de ética tem a ver com escolhas que fazemos e a preocupação com as consequências de nossas ações na vida, não só das pessoas quanto a do planeta. Em relação à equidade, espera-se que seja um direito de todos terem qualidade de vida.
O processo de Educação para o Consumo Consciente começa na família, pelas experiências oportunizadas e modelos que as crianças vivenciam. Aprender novas estratégias para lidar com as questões econômicas e adotar comportamento financeiro e de consumidor responsável em ações cotidianas é uma exigência do mundo contemporâneo. O exemplo que vem da família ainda é a principal influência na formação do caráter e estabilidade afetiva, social e cognitiva de nossas crianças e adolescentes.
Depois da família, a escola é a instituição de maior influência na formação das novas gerações. Com seu trabalho, proporciona situações enriquecedoras, intencionais e sistematizadas, fundamentais para a vida em sociedade.
As crianças necessitam da interação com o adulto para construírem seus projetos e vida, e aprenderem a lidar e a resistir aos apelos de consumo, construindo as ferramentas cognitivas e socioafetivas imprescindíveis para trabalharem com as questões econômicas presentes no cotidiano. Simultaneamente, precisam viver sua infância como criança, aprender a resolver conflitos e administrar frustrações, que são essenciais para o crescimento equilibrado até a fase adulta.
Compreender o processo de construção das relações sociais inclui as representações do mundo econômico pela criança.
Quanto à inserção da criança no mundo econômico, percebemos que, desde a mais tenra idade, ela entra em contato com o mundo das compras e com os diversos produtos existentes. Ainda bem pequena, pode acompanhar, sentada na cadeirinha para bebês, os movimentos da mãe, tirando os produtos das prateleiras e colocando-os no carrinho de compra. Além dessas situações corriqueiras, as crianças estão expostas a utilização do dinheiro, aos hábitos de consumo, à publicidade nos mais diferentes locais de convivência. É em casa que vê o dinheiro pela primeira vez e começa a conhecer sua função social.
O conhecimento sobre a realidade econômica é, portanto, fruto das observações e inferências estabelecidas pela criança, que tenta dar significado ao contexto que observa. Essas representações dependem em grande parte do apoio dos adultos com os quais convive e da aprendizagem escolar, caracterizando o processo de socialização econômica.
Esse movimento caracteriza a socialização econômica de crianças e adolescentes. E é uma área de estudo que abrange: práticas de socialização econômica; estratégias de alfabetização econômica; hábitos de compra, comportamento econômico infantil até o do adulto, em relação aos pares, família, escola, grupo, mídia; socialização do consumidor.
As pesquisas sobre socialização econômica procuram “mapear” as atitudes dos pais em relação ao manejo com o dinheiro e como tais práticas influenciam o comportamento dos filhos. Investiga como a criança aprende economia, como tem noção para gastar e comprar e se o nível socioeconômico interfere nas concepções sobre o mundo econômico. A socialização econômica abrange as ações que se desempenham na sociedade, relacionadas à compra, ao endividamento, à educação que se passa aos filhos e às atitudes, coerentes, conscientes ou não com o que se fala. A partir da observação desse processo, é possível apontar as práticas socializadoras de que as famílias se utilizam, de maneira a orientar e regular o comportamento dos filhos.
Os hábitos de compra são adquiridos pela experiência e caracterizam-se como hábitos de consumo reflexivo e hábitos de consumo impulsivo, que permitem estabelecer o perfil do consumidor. Quanto às atitudes em direção ao endividamento, existem, também, dois padrões ou estilos de comportamento, o padrão de atitude austera e o hedonista.
A análise das práticas, estratégias e alfabetização econômica indicam a necessidade de uma organização educativa para proteger os pequenos consumidores e orientar famílias para um consumo consciente e responsável e, nesse sentido, o conhecimento da psicogênese de conceitos econômicos contribui para elaboração de propostas de educação econômica.
É fundamental que as crianças entrem em contato com boas práticas de utilização do dinheiro e de consumo, reflitam sobre os desejos e necessidades, aprendam a poupar, a terem sonhos, a fazer planejamento e conhecerem conceitos-chave da economia: banco, origem do dinheiro, de onde vem o produto, poupança, dentre outros.
Quanto a socialização do consumidor, trata-se de todo o processo de aprendizagem especificamente relacionado ao consumo de crianças e jovens. É cada vez mais crescente a inserção e envolvimento das crianças como clientes do mercado. Isso pode ser observado quando tomam e influenciam as decisões de compra; realizam compras acompanhadas ou sozinhas; desenvolvem capacidade de julgamento e tomada de decisões a respeito de diferentes aspectos do consumo.
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